O controle tecnológico evita que patologias possam comprometer a vida útil do concreto usinado (foto: shutterstock.com / sakoat contributor)

São muitos os fatores que interferem na qualidade do material desde a saída da central. Mudanças climáticas e atrasos na entrega no canteiro são apenas alguns deles. Ensaios permitem eliminar eventuais dúvidas

O controle tecnológico do concreto usinado envolve a realização de uma série de ensaios para verificar se o material entregue no canteiro possui as propriedades esperadas e definidas no projeto estrutural. O objetivo é garantir o desempenho da estrutura e evitar patologias que possam comprometer sua vida útil.

Concreto convencional dosado em central

Compra de concreto exige conhecimento de normas técnicas e concreteiras

Apesar de sua importância, esse controle é muitas vezes deixado em segundo plano pelas construtoras, seja para reduzir custos, seja pela ideia errônea de que não há necessidade.

Independentemente do controle de produção realizado pela concreteira, é papel da construtora avaliar o concreto recebido. Afinal, há múltiplos fatores que interferem na qualidade do material desde a saída da central. Mudanças climáticas e atrasos na entrega no canteiro são apenas algumas delas. Além disso, os ensaios permitem eliminar eventuais dúvidas sobre o volume entregue em comparação ao solicitado.

PRINCIPAIS ENSAIOS

Segundo o manual da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Construção Civil (Abratec), os tipos e a quantidade de ensaios de controle tecnológico do concreto devem ser definidos de acordo com o nível de qualidade que se pretende atingir, a responsabilidade da obra, o grau de exposição a atmosferas agressivas e a vida útil da obra.

Existem basicamente três grandes grupos de ensaios para determinar a qualidade do concreto:

• os realizados nos materiais constituintes do concreto: agregados, aditivos etc.;
• os que avaliam o concreto fresco: determinação de consistência, exsudação e tempos de pega, por exemplo;
• os que conferem as propriedades do concreto endurecido: resistência à tração, módulo de elasticidade e absorção de água.

Os ensaios podem acontecer em diferentes momentos. Muito usuais, “os ensaios para a determinação da resistência à compressão são realizados aos 28 dias, para a confirmação da resistência potencial do concreto entregue”, diz o pesquisador do IPT, Rafael Francisco Cardoso dos Santos.

Outro teste importante é o de recebimento do concreto no estado fresco (abatimento), realizado em todas as betonadas entregues na obra, após a mistura de todos os componentes do concreto e antes da moldagem dos corpos de prova para determinação da resistência à compressão axial.

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COMO CONTRATAR

Antes de contratar uma empresa para controle tecnológico, a construtora ou empreiteira deve consultar se o laboratório possui creditação junto ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). Para não comprometer a confiabilidade e a isonomia, é importante também que o laboratório não tenha qualquer vínculo com a concreteira fornecedora.

“O fato de o laboratório possuir o selo de creditação indica que ele possui controle de qualidade dos procedimentos que envolvem os ensaios realizados, estrutura que atende às normas técnicas, controle de calibração de equipamentos e pessoal treinado”, diz Santos.

Segundo o pesquisador do IPT, problemas de confiabilidade do controle tecnológico do concreto podem ser consequência da falta de um plano de concretagem bem detalhado, com todas as etapas que antecedem a concretagem checadas. “Deve-se considerar que o concreto tenha um tempo para ser transportado, descarregado, adensado e acabado dentro de um limite de 150 minutos após o início da mistura”, salienta Santos.

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FALHAS COMUNS

Para ser bem-sucedido, o controle tecnológico do concreto requer a capacitação dos profissionais envolvidos em todo o processo de mistura, transporte, descarga, coleta de amostras, moldagem, acondicionamento de corpos de prova em obra e no laboratório, preparo e ensaios. “Todos os envolvidos devem saber as influências de cada processo no resultado final dos ensaios”, diz Santos, ressaltando que a retirada da amostra para a determinação do abatimento e para moldagem dos testemunhos é um ponto crítico em relação ao processo. É importante que a amostra seja colhida logo após a adição de toda água do traço do concreto e após a descarga de 15% do volume de concreto, conforme descrito na ABNT NBR NM 33:1998 – Concreto – Amostragem de concreto fresco.

Além das normas técnicas da ABNT referentes à produção e ao controle tecnológico do concreto usinado, outra referência importante é o Guia Prático de Controle Tecnológico do Concreto (Manual de Procedimentos) publicado pela Abratec e disponível para download gratuito no siteda entidade.

COLABORAÇÃO TÉCNICA

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Rafael Francisco Cardoso dos Santos – Engenheiro civil com mestrado em Habitação: Planejamento e Tecnologia (em curso). É pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).

Fonte: https://www.aecweb.com.br/revista/materias/como-fazer-o-controle-tecnologico-do-concreto-usinado-entenda/18274